Menino acorrentado a tonel recebe alta e deixa hospital de Campinas
Garoto de 11 anos foi encontrado desnutrido, nu e preso pelas mãos e pés em barril. Pai, madrasta e irmã estão presos
O garoto de 11 anos, que foi encontrado acorrentado, nu, dentro de um barril, no último sábado (30) no Jardim das Andorinhas, em Campinas, no interior de São Paulo, recebeu alta médica. Ele estava internado no Hospital Municipal Mário Gatti e reagiu bem ao tratamento com soro e alimentação gradativa.
Agora a criança vai receber atendimento social e psicológico. A guarda do menino ainda não foi definida. Existe a possibilidade de ele ficar sob os cuidados dos tios, mas antes a família terá de passar por uma avaliação.
O pai, a madrasta e a irmã da vítima foram presos preventivamente por determinação da Justiça. Eles devem responder por tortura e omissão.
O Ministério Público de São Paulo instaurou na segunda-feira (1º) procedimento para investigar uma eventual falha da rede de proteção nos atendimentos prestados ao menino, que estava em condições de extrema violação de direitos fundamentais. O caso teve repercussão nacional, mas o procedimento segue em sigilo para não expor ainda mais a criança.
De acordo com informações do órgão público, a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de Campinas nunca havia recebido denúncia de maus-tratos ou negligência referente a essa criança. Por isso, os promotores solicitaram à rede informações sobre todos os atendimentos prestados ao menino no ano de 2020 e aguarda pelo envio dos documentos.
A Polícia Militar de Campinas está recebendo doações para o garoto e fazia o acompanhamento da criança no hospital. Os agentes chegaram a chorar ao ver a situação de abandono em que ele se encontrava na casa da família.
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, deu prazo para que as secretarias responsáveis apresentem um relatório completo sobre os atendimentos prestados ao garoto. Além do acompanhamento feito à família pelo Conselho Tutelar há um ano, eles também faziam parte da Rede de Assistência Social do município.
Os vizinhos do menino afirmam que já desconfiavam de irregularidades e maus-tratos dos pais em relação à criança. Uma vizinha ouvida pela Record TV acredita que o garoto estava preso no barril há mais de um mês.
O garoto foi socorrido pela Polícia Militar, passou por avaliação médica e foi submetido aos cuidados do Conselho Tutelar. Ele estava acorrentado pelas mãos e pés e preso dentro de um tonel de tinta.
A criança era torturada e agredida sem poder chorar. "É só porque eu pegava as coisas para comer sem pedir para a minha mãe e meu pai. Meus irmãos podem pegar as coisas sem pedir, eu não", disse o garoto quando foi resgatado.
Segundo a polícia, tudo começou a partir de uma denúncia anônima de que havia uma criança trancada num cômodo de uma residência no Jardim das Andorinhas, dentro de um tonel e que estava amarrada.
Os agentes, então, foram ao local e entraram na residência. Ao vasculhar o imóvel, encontraram a criança em um cubículo e, conforme a denúncia, dentro de um tambor. O menino ficava debaixo de sol, por longos períodos, sem água e alimentação. Por isso, estava desidratado e desnutrido. Segundo os agentes, o garoto pesa cerca de 25 kg.
Aos policiais, o garoto disse que, quando sentia fome, comia as próprias fezes. Depois que respondeu as perguntas dos agentes, pediu, aos prantos, para ser adotado porque não aguentava mais essa vida.
Após a localização do menino, a casa da família, na periferia de Campinas, foi depredada.
O Conselho Tutelar de Campinas emitiu uma nota de esclarecimento na tarde de segunda-feira (1º) e afirmou que presta atendimento à criança, mas não revelou o número de visitas feitas à família em um ano.
"Em dezembro de 2020 e janeiro de 2021, recebemos a notícia de que a situação da criança e da família vinha evoluindo bem e positivamente", destacou em nota.
O órgão ainda ressaltou que o trabalho começou após denúncias sobre as condições de fragilidade em torno da saúde e das relações familiares da criança