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Com a quarentena, as empresas viram uma oportunidade
única de impulsionar as transmissões ao vivo pela web.
Mas o fenômeno
das lives veio para ficar?
O
violão, o microfone, a mesa de som, estava tudo pronto para o show. Mas, em vez
de os cantores Chitãozinho e Xororó estarem lado a lado com
uma plateia diante deles, cada um permanecia em sua casa. Olhando para uma
câmera, a dupla sertaneja cantou o sucesso Evidências em uma transmissão recente pela
internet a milhares de pessoas.
A cantora Marília Mendonça tem
uma história parecida: de chinelo, ela fez um show para mais de 3,3 milhões de
pessoas ao mesmo tempo da sala de seu apartamento. Acostumada aos estádios
lotados, ela fez uma apresentação de mais de 3 horas diante da câmera.
E não são só os
artistas que andam fazendo transmissões pela internet nas últimas semanas. Com
as academias fechadas, a personal trainer Carla Pinheiro reinventou as aulas
produzindo vídeos ao vivo para o aplicativo Instagram. Pinheiro ensina os exercícios, motiva os
alunos e interage com eles do outro lado da tela. Até o comércio entrou na
onda. É o caso da loja Twenty Four Seven, de moda feminina. Em transmissões ao
vivo, vendedoras mostram às clientes os diferentes looks. Tudo para vender as
peças de roupa pela internet e compensar o fechamento da loja física. Fora do
Brasil, a tendência também é vista nas mais diferentes atividades. No Reino
Unido, a companhia de balé English National Ballet transmite ao vivo aulas no YouTube. Nos Estados Unidos, o Zoológico da
Filadélfia, o mais antigo do país, tem feito interações ao vivo no Facebook para falar sobre os animais e responder
a perguntas do público. Até o papa Francisco transmitiu pela internet a
tradicional missa de Páscoa.
Os casos citados
são parte de um fenômeno que ganhou força durante a pandemia da covid-19. Como boa parte das pessoas teve de
permanecer em casa, artistas, empresas, empreendedores, professores, padres e
prestadores de serviço descobriram nas transmissões em vídeo uma nova maneira
de interagir com o público. A atual onda de lives — termo em inglês pelo qual
as transmissões ficaram conhecidas — impulsionou o consumo de um formato de
vídeo que até a pandemia era utilizado apenas em situações especiais. Em 2012,
vale lembrar, o salto do paraquedista austríaco Felix Baumgartner a uma
altitude de 39 quilômetros — no limite da estratosfera — teve uma audiência de
8 milhões de visualizações simultâneas na internet. Mas, de lá para cá, raros
eventos ao vivo mobilizaram grandes quantidades de pessoas na web. Com a
pandemia, o cenário mudou, e as lives ganharam uma dimensão nunca vista. No
sábado 18 de abril, milhões de pessoas assistiram ao festival online One World:
Together at Home (“Um mundo: juntos em casa”, numa tradução livre), com a
participação de dezenas de artistas, entre eles o músico Paul McCartney.
A explosão das
transmissões ao vivo não tem precedente. Segundo dados do YouTube obtidos pela EXAME, as buscas por
conteúdo ao vivo cresceram 4.900% no Brasil na quarentena. O fenômeno é
mundial. A consultoria americana Tubular Labs, especializada no segmento de
vídeos na internet, indica que houve um crescimento de 19% nas transmissões ao
vivo pelo YouTube no fim de março — média de quase 3,5 bilhões de minutos de
conteúdo por dia. “Há um sentimento de comunidade que as pessoas encontram nos
vídeos neste período de distanciamento social. Isso elevou os vídeos ao vivo a
um novo patamar”, diz Amy Singer, diretora do YouTube para a América Latina e o
Canadá e maior autoridade da empresa na região (leia a entrevista abaixo). O
que impulsiona o formato é a espontaneidade. De acordo com um estudo da
consultoria Forrester e da IBM, a audiência das lives é de dez a 20 vezes maior
do que a dos vídeos gravados.
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